Por J.R.Jerônimo
Em junho de 2010,
a pesquisa que realizei, nas principais vias de acesso à cidade de
São Paulo, acerca da quantidade média de ocupantes no interior de cada
automóvel, apontou para o número de 1,8. Ou seja, menos de
duas pessoas, incluindo o condutor, ocupavam cada um destes veículos de
transporte individual. A consequência disso é que, na comparação direta
entre automóvel e ônibus, com base na prática diária de nosso trânsito, a
diferença era gigantesca. Numa faixa da via, com 10 km de
comprimento, a quantidade de pessoas ocupando automóveis, se colocadas em
ônibus, em vez dos 10 km, ocupariam 886 m, apenas. Todos
os detalhes dessa comparação podem ser vistos no artigo Ir e vir - dá
para melhorar? (http://www.jrjeronimo.com.br/artigos/artigos_jrjeronimo_ir_e_vir.htm), o
qual considera somente passageiros sentados, com segurança e conforto.
E, se quiséssemos
considerar pesquisa mais recente, da CET - Companhia de Engenharia de Tráfego,
de São Paulo, que aponta a ocupação média atual do automóvel como
sendo de 1,4 pessoas, a diferença seria ainda maior, em favor da utilização do
ônibus.
O caos do trânsito está
aí, para todos verem e, pior, sentirem. Ele é uma realidade há tanto
tempo prevista, mas inconsequentemente não evitada. Gera todo tipo de
mal: estresse, doenças respiratórias e neurológicas, desperdício de tempo,
desgaste dos veículos, poluição, comprometimento de recursos naturais, redução
das oportunidades de realização pessoal e profissional, prejuízo financeiro e,
somado à sua desordem a legislação branda e correspondente impunidade, perdas
de vidas. Um artigo recente, de Celso Ming, O preço do trânsito
travado, ilustra bem parte disso (http://blogs.estadao.com.br/celso-ming/2012/10/20/4782/).
A revolução para a
mudança necessária está na mente. Reflitamos um pouco para compreender
melhor esse fato.
São várias as razões que
podem interditar as mentes de proprietários, e candidatos a proprietários, de
automóveis, entre elas:
- O sonho de ter um
automóvel;
- O desejo de
independência para locomover-se;
- A busca de
autoafirmação;
- Status.
São vários os motivos
que podem bloquear as mentes de empresários do segmento de transporte coletivo
e do de automóveis e autoridades relacionadas à questão, entre eles:
- Lucrar mais (com
excesso de passageiros) com menos (oferta de ônibus);
- Explorar o desejo e o
sonho das pessoas de terem cada vez mais automóveis, e mais modernos, velozes e
caros;
- Miopia que impede
enxergar um pouco mais longe e divisar um futuro que pode estar mais próximo do
que se imagina, com mais equilíbrio, bem estar, fraternidade e prosperidade;
- Desconsideração de que
as receitas e os empregos gerados na indústria automobilística também podem ser
obtidos através de todos os investimentos e ações voltados para o transporte
coletivo. Apesar de que são secundários diante do problema maior que
a falta de mobilidade proporciona;
- Inexistência de
compromisso com um mundo melhor;
- Ausência de iniciativa
e boa vontade.
De um lado, pessoas que
querem ter automóvel a qualquer custo e de outro, sujeitos que querem
enriquecer muitíssimo mais, sem parar, pouco se importando para o trânsito
que ajudam a travar, mas que driblam com seus helicópteros.
Enquanto tivermos mentes
congestionadas, teremos um trânsito idem. É preciso que cada um
descongestione sua mente.
Que o usuário de automóvel
- veículo de transporte individual - entenda que quanto mais automóveis, mais
lentidão, mais acidente, mais custo de estacionamento, mais
prejuízo, menos tempo para ser produtivo e realizador.
Que os empresários do
transporte e as autoridades políticas competentes abram-se para a visão do bem
coletivo e tomem medidas para a construção de mais ferrovias, linhas de metrô,
hidrovias, corredores de ônibus e seus correspondentes veículos coletivos, bem
como, ciclovias, bicicletários e calçadas.
Como não há mobilização
efetiva, que deveria haver (mas que um dia haverá), por parte da população para
promover a transformação necessária, que neste caso é no trânsito, a iniciativa
fica a cargo do empresariado do transporte e, principalmente, das autoridades
políticas. Para que tomem as providências no sentido de que o
transporte coletivo tenha intensificado sua ampliação e criação de novas
alternativas para efetiva resolução dos problemas de congestionamento no
trânsito.
Então, para efeito de
referência, é isto. Se considerarmos apenas ônibus,
dentre os itens do transporte coletivo, já teríamos um extraordinário
ganho em relação ao automóvel. Posto que, na parte da via em
que houvesse apenas ônibus, teríamos 91% (da via) livre, porque o espaço que
este ocupa, na comparação com o automóvel em sua lotação média de usuários, é
de 8,86%. É nesse contexto que podemos afirmar que o ônibus é 91% menor que o
automóvel.
O exercício do direito
de se ter um automóvel não se compara ao muito mais valioso direito de ir
e vir. Que andem as mentes para não pararmos no trânsito.